Conectar
DOAÇÃO

Suposto incidente envolve aeronave agrícola e comunidade escolar em Goiás

Opiniões dos Agronautas

    Desde a manhã de ontem (3 de maio), diversos órgãos da imprensa têm repercutido, em manchetes principais e horário nobre da televisão, um suposto acidente envolvendo a aplicação aérea de inseticidas.

    Sem usar o verbo no condicional, recomendável em situações ainda não esclarecidas, as matérias, com uma ou outra variação, informam que  "um avião agrícola despejou inseticida sobre uma escola, intoxicando mais de 40 pessoas, alunos e professores da escola situada em assentamento rural no município de Paraúna, Goiás."

    O que se sabe, de concreto, até o momento (4 de maio) é que o avião, de propriedade de uma empresa de Rio Verde, Goiás, estava efetuando aplicação de inseticida sobre uma lavoura da milho situada nas proximidades, mas não aplicando junto ou sobre a escola. Os alunos e professores teriam reportado mal-estar (vômitos, tonturas, dor de cabeça, coceira na pele e até desmaios) e supuseram tratar-se de intoxicação causada pelo produto aplicado pela aeronave, o qual  teria sido arrastado pelo vento (fenômeno conhecido por deriva). As notícias dão conta de que as pessoas foram levadas até hospitais da região, medicadas sintomaticamente e todas liberadas no mesmo dia. No decorrer das investigações, ainda ontem, o piloto e o proprietário da empresa teriam sido detidos sob a acusação de "crime ambiental".

    Procurada, a empresa aplicadora, Aerotex Aviação Agrícola, informou em nota preliminar que:

"A empresa responsável pela aplicação aérea esclarece que, em referência ao ocorrido hoje pela manhã, na escola Rural São José do Pontal, no município de Paraúna - GO, trataria-se de exposição de alguns dos alunos e funcionários deste local à um inseticida para tratamento de pragas na lavoura de milho. E que não houve derramamento de inseticida sobre a escola, como já noticiado por alguns meios de comunicação.

... Como medida cautelar, 38 pessoas foram encaminhadas a hospitais de Montividiu e Rio Verde. O fato transcorreu às 10:00 da manha do dia de hoje (03 de maio de 2013). Os envolvidos foram liberados dos hospitais às 15:20 do mesmo dia segundo informação do diretor do hospital de Montividiu.

A empresa informa que está apurando as possíveis causas do ocorrido, e prestando todo o esclarecimento necessário à comunidade local e aos envolvidos."

    É importante, sobre o fato, tecer ainda as seguintes considerações:

    Ao contrário do que noticiou até agora a imprensa, um fato seguramente NÃO ocorreu: a aplicação do produto sobre a escola. Se o produto até lá chegou teria sido de forma acidental, inadvertida. Sugere-se cautela nas afirmativas contidas nas diversas matérias,  que deveriam estar no condicional, pois  não se pode afirmar que "um avião agrícola intoxicou com inseticida 42 crianças".  Até onde se sabe, o avião aplicava inseticida, normalmente, próximo a escola, e os alunos teriam reportado mal-estar supostamente causado pelo produto  deslocado, pelo vento, até onde eles se encontravam. Entretanto, mesmo que este fato seja verídico (ainda está sendo investigado), não poderia ter causado os sintomas reportados, com tal intensidade e em tão grande número de pessoas, isto porque o produto aplicado (Tiametoxam + piretróide) é de classe toxicológica III (medianamente tóxico) e a quantidade de produto, ínfima na eventual deriva, não seria capaz de causar qualquer dano a humanos. Há que se procurar, com isenção, por possíveis outras causas para os sintomas reportados. Ainda, informa o fabricante do produto que o diagnóstico conclusivo de uma eventual intoxicação só pode ser feito mediante análises clínicas (exame de sangue) o que não se sabe se foi feito e, se foi, desconhece-se, até agora, os resultados. Portanto, a boa informação exige, no mínimo, aguardar os resultados das investigações.

    Quanto às prisões do piloto e do dono da empresa, parecem ser totalmente infundadas, eis que, a confirmar-se o ocorrido, poderia ter havido, no máximo,  infração às normas que regem tal tipo de aplicação (se a distância entre a aplicação e a escola foi inferior à estabelecida naquelas Normas e/ou que o produto tenha sido conduzido para fora da área de aplicação, infração esta também prevista na legislação e ambas passíveis de penalidades (multas)). Portanto, Infração e, não, Crime.  Quanto ao 'crime ambiental"  que, parece, está sendo também alegado pela autoridade policial como motivo das prisões, também aparenta ser infundado, eis que não foi constatado, até onde se tem notícia, qualquer dano ao meio ambiente.

Em 4 de maio de 2013

Eng.Agr. Eduardo C. de Araújo

Confira nos links abaixo, algumas matérias publicadas sobre o tema, na Web, no dia de ontem, 3 de maio de 2013

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2013/05/chuva-de-agrotoxico-hospitaliza-37-alunos-e-funcionarios-de-escola.html

http://g1.globo.com/goias/noticia/2013/05/piloto-de-aviao-agricola-que-intoxicou-varias-pessoas-em-escola-esta-preso.html

http://www.redebomdia.com.br/noticia/detalhe/49822/42+pessoas+intoxicadas+em+escola+rural+de+GO

http://www.dgabc.com.br/News/6023798/aviao-pulveriza-inseticida-em-regiao-de-escola-em-goias.aspx

http://g1.globo.com/videos/v/aviao-despeja-agrotoxico-em-area-rural-em-goias-e-intoxica-42-criancas/2553436/