Ipanema EMB-203: uma transição?

29 de Abril de 2015 16:06

Notícias - Opiniões dos Agronautas

O recente lançamento do EMB-203, o novo Ipanema ansiosamente aguardado pelo Mercado, se por um lado trouxe boas notícias, como a maior envergadura, por outro  trouxe uma certa frustração, eis que os operadores esperavam um avião que além da maior envergadura, tivesse também uma maior capacidade de carga. O volume do tanque de produtos aumentou em 200 litros sobre o modelo anterior, o que é uma boa notícia para os que aplicam produtos sólidos como a uréia, por exemplo, com peso específico menor que 1,0. Neste tipo de operação, enquanto o  EMB-202 / 202A carrega cerca de 650 kg, o EMB-203 poderá carregar aproximadamente 735 kg. A capacidade máxima em peso, no entanto, permanece, no EMB-203, inalterada em relação ao modelo anterior, ou seja, 750 kg. Então o ganho de produtividade, na aplicação majoritária de líquidos base-água, ficará restrito, o que não é pouco,  ao decorrente do aumento de envergadura, considerando que a velocidade permaneça a mesma - parâmetro este ainda não divulgado. Mas a maior produtividade poderia ser potencializada com a adoção de um motor com mais hp..

Esta situação faz lembrar o lançamento, na década de 70 do século passado, do modelo EMB-200A. Relembrando : o EMB-200 - o primeiro Ipanema de série - teve sua concepção influenciada, com avanços, no Piper "Pawnee"  PA-25-260, modelo predominante no Brasil ao final dos anos 60 e início dos 70. Assim como o PA-25-260, o EMB-200 foi dotado de um motor de 260 hp, alimentado a carburador e hélice de passo fixo. O tanque de produtos, de 680 litros, tinha a capacidade de carga limitada a 550 kg.  No entanto, por ser totalmente metálico, o peso vazio do Ipanema, era superior ao do PA-25-260, o que o colocava em ligeira desvantagem operacional perante o importado.

Ademais, quando o Ipanema EMB-200 entrou em produção seriada, em 1972, já haviam entrado no Brasil vários aviões Cessna A188 "Agwagon" , avião que  incorporava características consideradas positivas pelos operadores, como motor mais potente (300 hp), com injeção direta de combustível; hélice de velocidade constante; tanque de produtos com  maior volume (760 litros) e maior capacidade em peso (750 kg). Os operadores passaram a comparar o EMB-200 com o A188 e posicionaram-se, de um modo geral, em favor das características presentes no avião da Cessna.

Pressionada, no bom sentido, pelo Mercado, passou a Embraer a estudar a possibilidade de lançar um avião com maior capacidade e que incorporasse as características presentes no avião da Cessna. 

Como, entretanto, tais incorporações demandassem tempo, a Embraer decidiu adotar, no curto prazo, apenas uma das características do A188 : a hélice de velocidade constante. Surgiu então o Ipanema modelo EMB-200A, com as mesmas características do EMB-200 (peso, capacidade de carga etc.), porém dotado da nova hélice.

Como modelo de TRANSIÇÃO que era, o EMB-200A teve poucas unidades fabricadas : somente 24 (números de série 20050 a 20073).

Em 1974 a Embraer lançou, então, o modelo EMB-201, o qual perduraria por mais de dez anos em produção. O EMB-201 incorporava todas as principais características  desejadas pelo Mercado : motor de 300 hp, com injeção direta; hélice de velocidade constante; capacidade de carga, em peso, maior (750 kg); rodas maiores no trem de pouso. O volume do tanque, entretanto, permaneceu inalterado em 680 litros, o que somente viria a ser aumentado com o lançamento do EMB-202 ("Ipanemão").

Comparando a situação do EMB-200A com a do atual EMB-203, pode-se especular que este seja também um modelo de transição, satisfazendo em parte os anseios do Mercado e preparando o lançamento de um novo modelo, que incorpore totalmente aquelas expectativas. Assim, o Mercado segue especulando com o possível lançamento, em futuro próximo, de um "EMB-204", que teria um motor mais potente (400 hp ?) e um aumento da capacidade de carga de produtos para algo em torno de 1.000 kg, aproveitando na íntegra a nova fuselagem, mais comprida. e as asas com maior envergadura.

São naturalmente meras especulações, mas que têm fortes indícios de viabilidade.

Em 29 de abril de 2015

Eng.Agr. Eduardo C. de Araújo

Foto : Embraer